Capítulo 6: Do Período das Grandes Descobertas ao Século XVIII

         O Brasil tem a triste notoriedade de ter sido o primeiro país em que a febre amarela foi descrita de forma detalhada, no final do século XVII. Em nosso país, a doença era inicialmente desconhecida. Foi observada pela primeira vez em 1685, trazida aparentemente em um navio que chegou de São Domingos. A primeira vítima foi um trabalhador do porto de Recife. Logo depois, outras pessoas que moravam na mesma casa também adoeceram. A doença se espalhou e em apenas duas semanas, no início de 1686, morreram 600 pessoas na cidade de Recife.

         A doença desconhecida era chamada de "febre da bicha". Dava-se esse nome por analogia com as víboras (também chamadas de bichas), pois a doença "mordia" a todos e os matava ou colocava em perigo de morte.

         A febre amarela continuou a atacar os moradores de Recife durante todo o ano de 1686. No ano seguinte, chega à cidade o médico João Ferreira da Rosa, proveniente de Portugal. O governador, Marquês de Montebelo, encarregou Rosa de debelar a epidemia. O documento do governador é muito interessante e já aponta as concepções que se tinha na época sobre a causa da doença. A carta do Marquês está transcrita abaixo, sem pontuação nenhuma, como o original:

Porque ainda continuam as doenças contagiosas e pestilenciais assim nessa Povoação do Re.[cife] como nesta cidade de Olinda principalmente no tempo do inverno em que com as chuvas parece se levantam mais os vapores da terra senão que mostra que nela está a má qualidade nascida ou dos corpos mal enterrados ou das covas não terem campas de pedra ou de tijolo e conservados nas mesmas casas em que morrem os doentes nas quais ficam vivendo outras pessoas sem receio nem cautela preservativa e muitas vezes os que lhe sucedem na doença se acomodam nas mesmas camas que ficaram dos defuntos e usam da mesma roupa,louça, e mais móveis da casa, o que tudo é causa total ou grande parte dela para que se perpetuem as doenças e se constituam estas duas povoações um São Tomé