Gravura de A. Colombina (1656) mostrando a roupagem destinada a proteção
contra a peste, utilizada por alguns médicos da época. O
"bico" contém substâncias aromáticas, para proteger
contra os miasmas transportados pelo ar. A vara serve para tocar objetos
a distância, evitando o contágio.
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Para evitar as enfermidades dos pântanos, Lancisi propõe eliminá-los
secando-os, plantando árvores que absorvam o excesso de água,
cultivando-os, ou mesmo inundando-os. As medidas propostas por Lancisi
tiveram excelentes resultados, fortalecendo e levando à divulgação
de suas idéias. A teoria dos miasmas é um interessante caso
de uma concepção errada que foi extremamente útil
à humanidade. Como veremos, ela impulsionou muitas medidas sanitárias
adotadas nos séculos XVIII e XIX que trouxeram grande melhoria à
saúde pública.
É curioso indicar o significado da palavra "miasma", que se tornou
muito popular a partir do século XVIII. Lancisi utilizou "miasma"
de modo muito feliz, para representar algo que contamina ou infecta o ar,
e que provém da morte. O termo "miasma" é grego. Ele
significa mancha ou nódoa, e era utilizado pelos teatrólogos
gregos antigos para indicar uma mancha de sangue, proveniente de assassinato.
Um assassino, uma pessoa que havia derramado sangue, se tornava impregnado
por um miasma, uma mancha ou impureza, um sinal maldito e indelével
da morte, que o acompanhava para sempre. Portanto, o uso de "miasma" para
representar os gases pútridos provenientes da morte (de substâncias
podres) é bem adequado. As palavras latinas "contaminação"
e "infecção" traduziam idéias semelhantes, mas não
se referiam diretamente à morte. Contaminar significava inicialmente
poluir, sujar, profanar, transmitir uma impureza física ou moral.
Infectar, por sua vez, tinha o significado de tingir, colorir, impregnar
ou misturar alguma coisa nova, que mudava a aparência. |