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Kircher indica que, embora essas coisas pareçam inacreditáveis,
quem tiver presenciado experimentos com microscópios, ficará
certo de sua verdade. Mas ele não descre-ve tais experimentos. Pelo
contário: logo em seguida, apresenta como fundamentação
de suas idéias, a menção da suposta geração
espontânea de animais. Ele descreve que nas cavernas e porões,
a partir da corrupção e de "refugos virulentos", a terra
produz todos os tipos de insetos, animais venenosos como cobras e lagartos,
etc. Afirma também que o mesmo ocorre pelo efeito do calor sobre
águas estagnadas, lagos e mares. "A experiência diária
ensina, tanto em viagens marítimas como entre as paredes de nossas
casas, que a água, fechada em um recipiente, logo que é exposta
se enche de vermes". Da mesma forma, o aparecimento de vermes nos cadáveres
e nas pessoas doentes seriam evidências das idéias de Kircher:
Alguém ignora
que, dentro das vísceras do corpo humano, a partir da destruição
causada por alimentos estragados, logo surgem muitos vermes?
Logo em seguida, Kircher retorna à questão das enfermidades
contagiosas.
Assim que os espíritos
internos de um homem são perdidos, com seu calor natural, o veneno
produtor da praga, que ele atraiu e absorveu, dirige seu humor natural
à corrupção, por sua virulência. Depois disso
segue-se um fedor pelo qual são corrompidos aqueles que se aproximam
do pobre homem ou de roupas já infectadas por essa exalação.
A exalação, no entanto, nada mais é do que uma evaporação
do humor que está sendo destruído. Essa evaporação
(composta realmente por inúmeros pequenos corpos imperceptíveis)
logo se expande quando atinge o ar livre e infecta tudo em volta pelo poder
virulento de seu contágio. Esses pequenos corpos ou são respirados
para dentro do corpo, ou rastejam para dentro de seus lugares internos
mais ocultos entre as roupas, e logo produzem na pessoa os mesmos efeitos
que naquele de onde sairam (pois eles possuem o mesmo poder virulento que
está na matéria em destruição da qual são
partículas).
Em cadáveres,
onde todo o corpo realmente se dissolve na destruição, essas
emanações de pequenos corpos não infectam tanto os
que estão próximos. Mas eles se transformam em germes animados
de pequenos animais diminutos e imperceptíveis. Esse germe permanece
por um tempo nos objetos de madeira, tecidos e roupas, assim como em outros
tipos de matéria porosa ou matéria de baixa densidade.
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