Capítulo 6: Do Período das Grandes Descobertas ao Século XVIII

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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 Os médicos (...) julgaram que existia em mim uma abundância de cólera [bílis] queimada ou seca, juntamente com uma fleugma salgada, de tal modo que havia se desregulado a capacidade do fígado de produzir sangue. Alegrei-me, porque essas coisas que os autores haviam me transmitido eram confirmadas por dois mestres experientes, pois eu, que havia aprendido que na ciência matemática todas as especulações são muito verdadeiras, acreditei que essas coisas eram também comuns e inseparáveis das regras de curar (...).
 De acordo com minha antiga credulidade, perguntei que tipo de desregulagem do fígado podia ser essa que, ao mesmo tempo, aquecia a cólera amarela mais do que ela merecia, e também gerava mais fleugma do que devia, percebendo que um ato da mesma raiz e da mesma sanguinificação, não poderia produzir ao mesmo tempo, no mesmo ventre, um produto duplo ou bifurcado - ou seja, emitir abundantemente uma cólera ardente e também uma fleugma fria e aquosa. 
 Os mestres experientes ficaram em dúvida e se interrogaram com suas sombrancelhas arqueadas, olhando um para o outro. Por fim, o mais jovem deles respondeu que a mesma desregulagem de um fígado inflamado não podia produzir fleugma verdadeira, mas uma fleugma abundando em sal, e a temperatura do sal era quente e fria (...)
         Apesar de não ficar muito convencido do valor da teoria, Van Helmont precisava se curar da sarna e aceitou o tratamento recomendado: tomar purgativos, para se purificar.
 No sexto dia evacuei quinze vezes. Enquanto isso, eles bendiziam minha transformação, pois meu corpo havia se tornado ão fluido.Depois de mais dois dias, como a coceira não havia aliviado sua crueldade, tomei de novo o mesmo remédio, com uma notável revolta de meu estômago, e ocorreu um processo semelhante de evacuação. Eles disseram que a juventude costumava produzir o desenvolvimento da cólera. E quando viram que apesar disso a coceira e as feridas não estavam diminuindo, decretaram que dois dias depois eu deveria tomar o remédio purgativo pela terceira vez. 
 Um pouco antes da noite, minhas veias estavam exauridas, meu queixo havia caído, minha voz era rouca, todo o meu corpo estava arruinado e fraco. Era difícil para mim descer de meu quarto e andar, pois meus joelhos quase não me suportavam (...).
 Percebi tarde demais que antes dos remédios purgativos meus intestinos eram saudáveis; mas que agora, por falta de apetite e digestão falha, eu havia adquirido muita fraqueza, embora a sarna se mantivesse firme e segura.
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