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Após esse preâmbulo, Agostinho afirma que o Céu e a
Terra mostram que são criados, pois sofrem mudanças. Ele
estabelece uma diferença entre aquilo que existe e não foi
feito e aquilo que foi feito. Aquilo que realmente é, é imutável.
O que existe e não foi feito sempre foi e sempre será e é
sempre igual a si próprio, pois não pode passar a ser o que
não era. Ou seja: o que não foi produzido por uma outra causa
deve permanecer sempre igual. Portanto, aquilo que está mudando
não pode ser desse tipo. Deve ter sido produzido por uma outra causa.
Por quem? Por Deus. E como o universo é bom, belo e existe, Agostinho
afirma que Deus é sumamente bom, belo e existente.
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Michelangelo (1475-1564) pintou, em 1511, no teto da Capela Sistina
(Roma), as mais famosas representações da criação,
baseando-se no Genesis: (a) separação da luz e das
trevas; (b) criação do sol e da lua; (c) criação
do homem.
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Note-se, aqui, uma distinção semelhante à do Timeu
de Platão. No Timeu, a discussão inicial corresponde exatamente
a distinguir aquilo que sempre é e nunca se transforma daquilo que
sempre se transforma e nunca é. Mas logo Agostinho se afasta do
ponto de vista do Timeu, sem deixar no entanto de se referir às
suas idéias.
Teria Deus produzido o céu e a terra como um artesão, que
toma um material e o modela? Agostinho examina e nega essa comparação.
Ele se pergunta onde Deus construiu o Céu e a Terra e responde que
eles não poderiam ter sido construídos no céu e na
terra – que não existiam – e que não existia nenhum lugar
antes da criação do mundo. Também não existia
nenhum material a partir do qual pudesse ser moldado o mundo, pois toda
matéria é mutável e por isso deve ter sido criada. |
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