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Doentes de sífilis sendo tratados por suadouro e mercúrio,
no século XVII.
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Logo após o aparecimento da sífilis, os médicos experimentaram
muitos remédios e descobriram que o mercúrio, embora seja
uma substância venenosa, pode curar essa doença. Fracastoro
sugere várias explicações para a eficácia do
mercúrio.
Talvez as partículas
agudas de que ele se compõe, encontrando-se extremamente divididas
depois de haver penetrado nas diferentes partes do corpo, tornam-se capazes,
por esse meio, de dissolver e de destruir a semente da peste; talvez, enfim,
porque os destinos e a natureza lhe deram qualquer outra qualidade, que
nos é desconhecida.
Fracastoro recomenda misturar o mercúrio com várias substâncias,
quase todas elas de cheiro desagradável: raízes de eléboro
negro e de íris em pós, galbanum, assafétida, óleo
de lentisque e óleo tirado do enxofre. A pessoa deve cobrir todo
o corpo com esse ungüento e depois se deitar e cobrir bem, até
transpirar abundantemente. Essa operação deveria ser repetida
dez vezes. |
A absorção do mercúrio pelo corpo produzia uma salivação
incessante, que obrigava o paciente a cuspir sem parar. Isso era interpretado
como um bom sinal: parecia que era a própria doença que saia
do corpo, com a saliva. "O humor espesso e maligno que vos atormentava
se dissolverá pouco a pouco. Vós o sentireis flutuar com
a saliva, e tereis a satisfação de vê-lo escoar-se
como um riacho e cair a vossos pés."
Em meio a todas as descrições de Fracastoro, podemos perceber
os seguintes elementos importantes: os astros podem influenciar e produzir
combinações novas dos elementos terrestres; isso ocorre principalmente
quando eles se reúnem em uma constelação (conjunção);
o ar se torna então corrompido ou envenenado, ficando repleto de
germes ou sementes da enfermidade, provenientes do céu; esse ar
produz a corrupção do sangue, que pode ser combatida por
processos gerais de purificação (sangria, evacuações)
ou por remédios cuja ação não é compreendida. |
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