|
Esta terrível doença, ao contrário do que se pensou
na época, não é causada nem por alimentos podres,
nem pelo ar infectado. Trata-se de uma carência nutricional, que
atualmente descrevemos como falta de vitamina C. De certa forma, João
de Barros estava certo ao associar a enfermidade aos alimentos, mas ninguém
na época podia adivinhar a necessidade de frutas e de verduras na
alimentação, para evitar o escorbuto.
A TEORIA DE CONTÁGIO
DE FRACASTORO
A reflexão sobre diversas doenças que produziam epidemias
na Europa levou alguns médicos a repensarem sobre o contágio.
Talvez o mais importante deles tenha sido Girolamo Fracastoro , de Verona
(1484-1553).
Como vimos no capítulo anterior, no final do século XVI a
sífilis começou a se espalhar pela Europa. Transmitida sexualmente,
ela se difundiu com enorme rapidez, por todas as classes sociais. Após
o contágio, a enfermidade podia demorar vários meses para
se manifestar - o que fazia com que se espalhasse sem ninguém notar.
Produzia fraqueza, palidez, frio e dor nos membros, manchas da pele, feridas
nos órgãos genitais, pústulas pelo corpo, queda de
cabelo, feridas profundas e incuráveis, úlceras nos olhos,
deformidades e, por fim, a morte. |
Girolamo Fracastoro.
|
Diz-se que a sífilis até mesmo influenciou a moda: o surgimento
das perucas teria sido o resultado do grande número de nobres carecas,
por causa dessa doença. Embora não produzisse efeitos tão
rápidos quanto as pestes, tornou-se um enorme problema social e
apavorou a população.
Em 1530, poucas décadas após o surgimento da doença
na Europa, Fracastoro publicou uma famosa obra, na qual introduziu o próprio
nome da enfermidade: Syphilis, sive Morbus Gallicus ("Sífilis, ou
doença francesa"). Este curioso livro tem um estilo pouco comum
em obras médicas: é escrito em versos, com estilo literário.
Tudo indica que Fracastoro se inspirou na obra de Lucretius, "De rerum
natura", também em versos, para compor seu trabalho. As próprias
idéias de Fracastoro, como veremos, possuem semelhança com
as de Lucretius. |
|