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A causa primeira de todas essas doenças, segundo Avicena, vem dos
astros e de suas formas. Sempre surgem essas doenças quando há
certas configurações celestes e existem as disposições
terrestres adequadas. Os sinais celestes principais seriam o surgimento
de halos em volta do Sol e da Lua; aparição de fogos no céu;
estrelas cadentes e cometas.
Gravura de Avicena.
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E quando se fazem as
virtudes necessárias dos agentes celestes, e as virtudes passivas
terrestres, pela forte umidificação do ar, elevam-se para
ele vapores e fumaças, que nele se espalham, e o putrefazem com
fraco calor.
Avicena dá vários detalhes sobre os sinais atmosféricos
da peste, para cada uma das estações. Como a doença
é trazida por substâncias putrefatas misturadas no ar, um
sinal importante é que a atmosfera fica turva, enevoada ou enfumaçada
- por exemplo, frio com pó e sem chuvas. Se no verão faz
frio de noite, e durante o dia um calor forte e sufocante, estando o ar
conturbado, pode-se esperar o surgimento da peste, febres pestilenciais,
varíola e enfermidades semelhantes.
O ar putrefato é inalado e, segundo Avicena, atinge o coração
e daí se espalha por todo o corpo, podendo também se comunicar
a outras pessoas: |
E quando o ar está
deste modo, atinge o coração, no qual corrompe a estrutura
do espírito que nele está, e putrefaz toda a umidade que
o circunda, (...) e espalha pelo corpo sua causa de fluidez, fazendo a
febre pestilencial. E ela se comunica a muitos homens, que possuam em si
mesmos a propriedade preparatória. Pois se existe o agente, mas
o paciente não está preparado, não ocorrem a ação
e o efeito.
É interessante como Avicena tenta explicar a predisposição
ao contágio. Aqui, ele faz intervir a teoria dos humores: o corpo
está preparado para a doença se estiver cheio de humores
maus, ou se estiver debilitado (por exemplo, pelo excesso de atividades
sexuais), ou mesmo se os seus poros estiverem dilatados por banhos quentes. |
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