Capítulo 9: O Processo de Transmissão das Doenças

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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         Todos esses casos pareciam indicar que a água era uma das grandes responsáveis pela transmissão do cólera (embora não fosse a única). Mas a maior evidência sobre isso foi obtida por Snow em um estudo estatístico sobre o fornecimento de água de Londres. Havia, na época, duas grandes empresas fornecedoras de água encanada na cidade: a Lambert e a Southwark & Vauxhall. Durante o ano de 1854, de cada 100.000 pessoas que utilizavam água fornecida pela empresa Southwark & Vauxhall, 114 tiveram cólera. No mesmo período, de cada 100.000 pessoas que utilizavam água fornecida pela empresa Lambert, nenhuma teve cólera. Em ruas em que algumas casas recebiam água de uma das empresas e outras casas de outra, houve 60 casos de cólera para cada 100.000 pessoas. Portanto, os casos de cólera pareciam estar diretamente ligados ao fornecimento de água pela empresa Southwark & Vauxhall. Descobriu-se que essa água era coletada no rio Tâmisa, em uma região que recebia esgotos. A água fornecida pela outra empresa, pelo contrário, vinha de uma fonte pura.

         Se a causa do cólera era algo que vinha pela água, devia ser possível filtar a água e separar a causa da enfermidade. Em uma penitenciária, em que havia muitos casos de cólera, experimentou-se filtrar a água através de areia e de carvão. Sabia-se que a areia retém a maior parte das impurezas sólidas e que o carvão absorve cheiros. No entanto, mesmo com a filtragem, continuou a haver o surgimento de novos casos de cólera. Quando se mudou a 
fonte da água utilizada, cessou o cólera. Isso confirmava a importância da água na transmissão da doença, mas ao mesmo tempo mostrava que a causa do cólera não era algo que pudesse ser filtrado e separado, por meios comuns, nem era um tipo de miasma, associado ao mau cheiro.

        Apesar de todos os fatos coletados por Snow, não se pode pensar que houvesse alguma prova definitiva de que o cólera era transmitido através da água. Ele próprio cita fatos difíceis de explicar. Alguns médicos objetaram que nem todas as pessoas que bebem água supostamente contaminada ficam doentes. Por que? Talvez o tipo de água produzisse uma predisposição à doença, mas a causa fosse de outro tipo - vindo, por exemplo, pelo ar. Um caso que era citado foi o de uma pessoa que, por engano, ingeriu o líquido evacuado por um doente de cólera - e, apesar disso, não ficou doente. Houve também experimentos: Thiesch fez com que ratos brancos ingerissem as evacuações de coléricos, mas nenhum dos ratos ficou doente. As pessoas que alegavam esses fatos defendiam a idéia de que a enfermidade provinha de emanações no ar, miasmas.


Estudos realizados na metade do século XIX mostraram que o cólera podia ser transmitido pela água.

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