Capítulo 8: Miasmas ou Microorganismos?

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

.
         É interessante descrever os cuidados que esse médico tomava durante uma epidemia, em meados do século XVIII.

         Pela manhã, às quatro ou cinco horas, em jejum, mastigava alguns grãos de cardamomo (uma especiaria de cheiro agradável), depois ia visitar os doentes; depois (às seis horas) engolia um pouco de teriaga ou de diascordium, ou três ou quatro pequenos pedaços de casca de laranja em confeito, ou raízes de helenium em confeito. Às sete ou oito horas, fazia o desjejum com um pequeno pedaço de pão coberto de manteiga ou de queijo verde de cabras, tomando um corpo de cerveja e um copo de vinho de absinto. Parecia-lhe essencial manter-se sempre alegre, sem temor, cólera ou tristeza. Para isso, tomava de vez em quando três ou quatro copos de bom vinho.

         Às dez horas, se tinha tempo, fumava um cachimbo de tabaco, e depois da refeição mais dois ou três outros. Fumava duas ou três antes do meio-dia, nas horas de intervalo. Também recorria ao tabaco a qualquer hora, quando se sentia incomodado pelo mau odor dos doentes. Considera o tabaco como o melhor preservativo.

Joseph Priestley.
         Até o século XVIII, as idéias sobre miasmas e sobre a transmissão de enfermidades pelo ar eram apenas hipóteses. Na verdade, pouco se sabia a respeito da própria natureza do ar. Apenas no final do século XVIII foram feitos os primeiros estudos de caráter científico moderno sobre a composição do ar e sobre seu papel na doença e na manutenção da vida.

         A idéia de que o ar pode conter substâncias maléficas à saúde ganhou bastante apoio através de estudos feitos no final do século XVIII. Entre 1774 e 1777, o naturalista Joseph Priestley (mais conhecido pelos químicos do que pelos biólogos e médicos) fez estudos sobre o ar e a vida.

         Já se sabia que, quando se coloca uma vela acesa em um recipiente fechado, no qual exista um pequeno animal vivo, a vela logo se apaga e o animal morre. Se um outro animal vivo for colocado nesse ar, ele morrerá quase instantaneamente. Priestley estudou esse tipo de fenômeno. Ele observou que o animal morre tendo convulsões, e que o mesmo acontece quando é colocado em outros gases recentemente descobertos: "ar fixo" (gás carbônico), "ar inflamável" (hidrogênio), ar cheio de fumaça de enxofre queimado, e também ar infectado com matéria podre.

.
Página anterior
146
Próxima página

INTRO DUÇÃO
CAP. 01
CAP. 02
CAP. 03
CAP. 04
CAP. 05
CAP. 06
CAP. 07
CAP. 08
CAP. 09
CAP. 10
CAP. 11
CAP. 12
CRONO LOGIA