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O próprio trabalho de Fracastoro, já estudado, que pertence
a essa época, mostra esse tipo de renovação, através
da influência do atomista romano Lucretius. No entanto, outros autores
do século XVI e XVII representam melhor a tentativa de revolucionar
a Medicina. Nesse período, surgem críticas diretas e globais
à tradição antiga. Andreas Vesalius (1514-1564) funda
a anatomia moderna, através da cuidadosa observação,
descrição e representação artística
do corpo humano. Seus estudos mostram que Galeno havia povoado a antiga
anatomia com muitos erros graves, que durante mil anos foram aceitos como
verdade, pois ninguém era capaz de se dedicar à própria
observação da natureza. Mais tarde, William Harvey (1578-1657)
irá revolucionar a fisiologia, mostrando que o sangue circula por
todo o corpo, bombeado pelo coração, ao contrário
do que se acreditava até a época.
Talvez o autor médico mais característico desse movimento
de renovação seja Paracelso. Philippus Aureolus Theophrastus
Bombastus von Hohenheim (1493-1541), que se auto-denominava Paracelso ,
atacou de modo direto e violento toda a tradição. Sua ruptura
com as autoridades antigas foi mostrada de modo formal quando ele queimou
publicamente os livros de Galeno e Avicena, numa praça de Basle,
em 1527. O maior obstáculo ao desenvolvimento do conhecimento lhe
parecia ser o respeito aos livros tradicionais. Era necessário retornar
ao "livro da natureza" e adquirir conhecimento pela experiência.
Para diferenciar-se dos médicos da época, que só escreviam
em latim, Paracelso redigiu seus livros no idioma popular: alemão. |
Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von
Hohenheim, auto-denominado Paracelso.
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Paracelso não se tornou o Copérnico da Medicina, no entanto:
não conseguiu edificar uma nova teoria que substituisse a antiga.
Sua obra foi uma estranha mistura de idéias místicas, astrológicas,
alquímicas e médicas. O homem é, para ele, uma miniatura
do universo (um microcosmo) e por isso os conhecimentos médicos
não podem ser separados de uma filosofia sobre toda a natureza.
Ele foi mais um mago do que cientista, no conceito moderno da palavra.
Talvez a maior contribuição que ele tenha dado à Medicina
tenha sido o impulso para buscar algo novo, através de todos os
meios disponíveis. |
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