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A escolha do
método elétrico foi um golpe de sorte. O uso de chapas fotográficas
para estudar as radiações era uma técnica inadequada,
porque elas são influenciadas por inúmeros fatores: calor,
pressão, umidade, efeitos químicos, etc. Enquanto apenas
se utilizava chapas fotográficas, era impossível perceber
que as radiações do urânio eram uma coisa diferente
das outras supostas radiações invisíveis. No entanto,
quando foram estudados os efeitos elétricos, foi possível
perceber que o giz, o papel, o açúcar e as outras substâncias
que pareciam emitir raios invisíveis não tornavam o ar condutor
de eletricidade.
Maria Curie testou diversos compostos e minerais contendo urânio.
Todos eles tornavam o ar condutor. O efeito observado dependia da proporção
de urânio nos compostos, mas não dependia dos outros elementos
presentes. Isso indicava que a emissão de radiação
não estava associada à estrutura molecular ou cristalina
das substâncias em questão, dependendo apenas da quantidade
de átomos de urânio no material.
Maria Curie examinou um grande número de substâncias comuns,
depois começou a testar sistematicamente todos os compostos químicos
e minerais que existiam no laboratório da Escola Industrial de Química
e Física, onde trabalhava. Inicialmente, nenhum deles parecia produzir
efeitos semelhantes ao urânio. Após muitos resultados negativos,
no entanto, Maria Curie encontrou a primeira novidade: os compostos de
tório também produziam efeitos iguais aos do urânio.
Perceber que as radiações estudadas por Becquerel não
eram uma propriedade exclusiva do urânio foi um passo importante,
mas na verdade essa descoberta de Madame Curie já tinha sido antecipada:
dois meses antes, o físico alemão Gerhard Schmidt (1865-1949)
já tinha descoberto que o tório também emitia radiações
do mesmo tipo.
Além do urânio, do tório e seus compostos, ela notou
que o cério, o nióbio e o tântalo também pareciam
fracamente ativos. Já se sabia que o fósforo branco também
era capaz de ionizar o ar, mas Maria Curie notou que outras formas do fósforo
(fósforo vermelho, ou fosfatos) não produziam o mesmo efeito
e que, portanto, provavelmente se tratava de um fenômeno de natureza
diferente.
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