|
O INÍCIO NA VIDA ACADÊMICA
|
Em 1897 aos
30 anos de idade, Maria Curie ainda era uma pessoa desconhecida. Polonesa,
de família pobre, conseguiu com muitas dificuldades estudar em Paris,
onde obteve as licenciaturas em Física (1893) e Matemática
(1894). Casou-se no ano seguinte com Pierre Curie, um pesquisador oito
anos mais velho do que Marie, experiente, que já tinha publicado
importantes trabalhos experimentais (sobre a “piezoeletricidade”, um fenômeno
em que cristais submetidos a tensões produzem eletricidade) e teóricos.
Maria realizou suas primeiras pesquisas sobre um tema não muito
interessante de física aplicada: o estudo do magnetismo de aços
industriais. Em 1897, após uma gravidez difícil, nasceu sua
primeira filha, Irène. Logo depois, com o apoio do marido, Maria
resolveu tentar aquilo que nenhuma mulher havia ainda conseguido: um título
de doutora em física, pela Sorbonne.
|
O tema escolhido para o doutoramento foi a estranha radiação
emitida pelos compostos de urânio, que Henri Becquerel havia descoberto
dois anos antes. Nessa época, não se falava sobre “radioatividade”
– essa palavra só foi inventada em meados de 1898, pela própria
Maria Curie. A descoberta de Becquerel era uma coisa considerada de pequena
importância. Ele notara que diversas substâncias contendo urânio
emitiam certos raios invisíveis parecidos com os raios X, que atravessavam
o papel e produziam manchas em chapas fotográficas. No entanto,
esse fenômeno não parecia algo extraordinário: era
explicado pelo próprio Becquerel como um tipo de fosforescência
invisível – um fenômeno semelhante, portanto, a outros bem
conhecidos. Seguindo uma sugestão do físico inglês
Silvanus Thompson (1851-1916), o fenômeno era chamado de “hiperfosforescência”.
Becquerel havia escrito alguns artigos curtos sobre o assunto, e depois
abandonara essa linha de pesquisa, que não lhe parecia promissora,
dedicando-se a outro fenômeno que, na época, lhe pareceu muito
mais importante. Trabalhos publicados por diversos autores da época
pareciam indicar que muitos outros materiais também emitiam radiações
invisíveis capazes de produzir marcas no papel fotográfico:
giz, papel comum, açúcar, e até vagalumes.
Maria Curie deve
ter iniciado o estudo das radiações do urânio sem grandes
expectativas. O primeiro tópico que estudou foi a condutividade
elétrica do ar produzida por esses raios. Quando se coloca um composto
de urânio perto de um objeto eletrizado, ele se descarrega. Em sua
pesquisa, Maria Curie fez medidas desse efeito utilizando um instrumento
que Pierre Curie havia inventado – um aparelho de medidas elétricas
que utilizava um quartzo piezoelétrico. Não há dúvidas
de que Pierre foi quem orientou os primeiros passos de Maria nessa pesquisa.
|
|