Capítulo 6: Do Período das Grandes Descobertas ao Século XVIII

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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(...) Se quereis conhecer pela ordem o princípio e as causas; começai por dirigir vossos olhares sobre a parte imensa do universo, e sobre a multidão de cidades que foram infectadas por esse contágio. Considerando depois que o germe de um flagelo tão geral não pode ser guardado nas águas dos mares, nem no seio da terra; vós vos convencereis que os princípios e a séde do mal estão no ar, esse elemento que abraça nosso globo inteiro, e que é o veículo orginário dessas pestes mortais que afligem a natureza humana. O ar é o pai e a fonte das coisas. É ele quem produz entre os homens as maiores doenças, sendo de uma natureza própria para se corromper de cem modos diferentes, por causa da maciez de suas partes; sendo igualmente pronto a receber todos os tipos de impressões, e a comunicá-las depois de recebê-las. 
         Mas como o ar se corrompeu e produziu essa enfermidade? Por uma influência celeste, já que os astros agitam e movem os elementos terrestres:
O Sol e os planetas são os primeiros móveis que regem e agitam o mar, a terra e o ar. À medida que esses astros fazem suas revoluções, e mudam de lugar no céu, os elementos submetidos a suas leis sofrem diversas mudanças. Vêde como no inverno, quando o Sol, levado por seu carro rápido para o Sul, se afasta de nosso globo, o frio logo exerce sua violência (...) Não existe dúvida, de modo semelhante, que a tocha da noite, a Lua, tem grande domínio sobre os mares, e sobre toda a umidade espalhada no universo; que o planeta sinistro de Saturno, o de Júpiter, mais favorável ao mundo, Marte e a bela Vênus - que, em uma palavra, todos os astros presidem aos elementos, que eles atormentam sem cessar. Por isso eles são causa de grandes agitações, em toda parte, sobretudo se encontramos vários que atuem juntos, ou se ocorrer que eles se afastem de seu caminho ordinário para percorrer novas rotas. Esses acidentes aparecem sem dúvida depois de várias revoluções do céu, e são obras do tempo; assim os deuses se servem dos astros para a realização dos destinos.
         Sempre que existem novas situações nos céus, podem surgir também novos efeitos na Terra: "(...) Deveis vos surpreender que o ar alterado produza em algumas épocas novas doenças, e que os mortais infelizes sofram no curso do século as influências de um astro rigoroso?"

         Como evidência de que os astros podem trazer novas doenças, Fracastoro lembra a peste negra de dois séculos antes, e que havia sido causada pela união de Marte e Saturno. Convida, por isso, seus leitores a elevarem os olhos para os céus, para descobrir a origem do novo flagelo. E logo identifica a causa: uma conjunção de Júpiter, Marte e Saturno na constelação de Câncer. Embora Júpiter seja um planeta benéfico, ele não é capaz de impedir a ação de Saturno e Marte reunidos.

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