|
Como todas as enfermidades podem ser causadas pela magia, todas elas podem
também ser combatidas por orações e por exorcismos:
Já foi dito que
as bruxas são capazes de afligir os homens com todo tipo de enfermidades
físicas. Pode-se, portanto, considerar como regra geral que os vários
remédios verbais ou práticos a serem aplicados contra essas
enfermidades são igualmente aplicáveis a todas as demais,
como contra a epilepsia, a lepra, entre outras.
O "Malleus maleficarum" indica alguns dos modos de combater as doenças
produzidas pela magia:
Nider, no primeiro capítulo
de seu Praeceptorium, diz que é lícito benzer o gado, da
mesma forma que o é aos homens doentes (...). Pois diz que quando
uma pessoa ou uma virgem devota benze uma vaca com o sinal-da-cruz, rezando
um pai-nosso e a saudação angelical, toda a obra demoníaca
que sobre ela se abate é afastada, se tiver sido causada por bruxaria.
As diferenças entre doenças naturais e sobrenaturais ficam
muito diluídas. As ervas e outros remédios podem servir para
preservar ou curar de doenças, mas como elas funcionam? Os inquisidores
sugerem que elas servem para fortalecer a pessoa e aumentar sua resistência
ao demônio. Dessa forma, se uma pessoa se cura através de
remédios, isso não quer dizer que a enfermidade era natural
- poderia ter sido também um efeito de feitiçaria. Por precaução,
era conveniente acompanhar qualquer tratamento médico por orações
e por apelos aos santos e a Deus, para que eles fossem realmente eficazes.
Na Idade Média e no Renascimento, popularizou-se a crença
de que as feiticeiras ou bruxas podiam controlar os poderes da natureza,
causando tempestades e epidemias.
|
Nessa época, o número de supostas bruxas capturadas e queimadas
pelo Inquisição atingiu dezenas de milhares. É natural
que, nesse tipo de clima cultural, a busca de uma compreensão médica
das doenças e de sua transmissão ficasse em segundo plano.
Alguns trechos do Malleus maleficarum mostram que os inquisidores aceitavam,
nessa época, algumas concepções astrológicas.
Desde o final da Idade Média, por influência árabe,
a astrologia havia adquirido grande influência na Europa. Um dos
astrólogos árabes mais influentes foi Albumasar, ou Abu Ma'shar
de Bagdá (século X). Traduzido para o latim, ele influenciou
fortemente o desenvolvimento da astrologia européia. Na Espanha
e depois em Portugal, após a invenção da imprensa
de tipos móveis, surgiram obras muito populares, os chamados "Reportórios
dos tempos", que divulgaram essas idéias. Essas obras davam indicações
sobre as épocas e condições adequadas para o plantio
e colheita, relações entre os astros e o clima, etc. Grande
parte dessas obras era destinada à astrologia médica, indicando
as condições celestes capazes de produzir doenças,
bem como as épocas adequadas para utilizar sangrias ou purgantes. |
|
|