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MICHAEL FARADAY
Quando se fala
em ciência experimental, o nome de Faraday é sempre lembrado
como de um dos maiores experimentadores da história da ciência.
Mas quem foi este cientista e quais suas principais contribuições
científicas?

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Michael
Faraday nasceu em 22 de setembro de 1791, em Newington Butts, Surrey, em
Londres. Seus pais, James Faraday e Margaret Hastwell, já tinham
dois filhos, Elizabeth e Robert e enfrentavam dificuldades financeiras
para proporcionar boa formação educacional para os filhos.
Quando Faraday estava com cinco anos a família se mudou para Londres
e o salário de James, que trabalhava como ferreiro, mal dava para
sustentar a todos. A situação financeira da família
se agravou quando James faleceu em 1809, vítima de uma doença,
provocando também uma precoce inserção de Faraday
no mundo do trabalho.
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Aos
13 anos, Faraday havia aprendido somente o necessário para ler,
escrever e um pouco de matemática, mas já trabalhava
ajudando no transporte do material e nas encadernações em
uma livraria, de propriedade de um francês chamado G. Riebau. Esse
trabalho lhe proporcionou um amplo contato com livros e despertou sua curiosidade
e interesse pelas ciências. Ele lia todos os livros que lhe permitiam
e tal dedicação chamou a atenção até
mesmo de clientes da livraria.
Foi através
da ajuda de um desses clientes (William Dance) que, em 1812, Faraday assistiu
a uma série de quatro conferências do químico Humphry
Davy, na Royal Institution. Ele anotou cuidadosamente essas conferências
e enviou uma cópia para o conferencista, lhe pedindo um emprego
em qualquer função relacionada à atividade científica.
Em março do ano seguinte, com a demissão de um assistente,
Faraday conseguiu o emprego. Então, aos 22 anos, Faraday se tornou
assistente de Humphry Davy em seu laboratório na Royal Institution
de Londres.
Davy
foi um químico brilhante e seu laboratório era um dos mais
bem equipados da Inglaterra. Com ele, Faraday fez um estudo sobre o cloro,
experiências sobre difusão de gases e liquefação,
dentre tantas outras atividades. Em outubro de 1813, Faraday acompanhou
Davy em uma viagem pela França, Itália e Suíça,
onde conheceu importantes cientistas de diferentes áreas (como Alessandro
Volta e Joseph Gay-Lussac) e aprendeu a “ver” e “pensar” os problemas científicos.
Durante vários anos, ele apenas auxiliou Davy em seus estudos em
Química e foi assim que adquiriu uma grande habilidade experimental.
Essa
habilidade o levou ao estabelecimento das leis básicas da eletroquímica,
considerada uma importante contribuição ao desenvolvimento
da Química. No entanto, foram suas pesquisas em outro ramo das ciências,
na Física, que o tornaram mundialmente famoso.
Faraday
não havia se dedicado a pesquisas em Física até 1820,
ano em que Ørsted
divulgou a descoberta do eletromagnetismo, uma relação entre
eletricidade e magnetismo que era esperada havia muito tempo, impressionando
toda a comunidade científica da época. O fenômeno observado
por Ørsted (o movimento da agulha de uma bússola em função
da corrente elétrica que atravessava um fio próximo à
bússola) apresentava propriedades de simetria desconhecidas até
aquele momento (porque não se tratava de atrações
e repulsões, mas sim de um efeito circular em torno do fio) e rapidamente
cientistas em várias partes do mundo se voltaram para pesquisas
nesta área.
Também
Davy teve seu interesse desperto pela novidade e foi como assistente
dele que Faraday teve seu primeiro contato com experimentos sobre eletromagnetismo.
Ele registrou essa experiência em seu caderno de laboratório,
em maio de 1821, e existem evidências que depois ele voltou sozinho
ao laboratório para novas experiências. Provavelmente os resultados
dessa iniciativa contribuíram para levar Richard Phillips, editor
de uma importante revista da época (Annals of Philosophy), a convidá-lo
para escrever um artigo de revisão sobre o novo campo de pesquisas
eletromagnéticas.
Para
escrever o artigo, Faraday teve que estudar grande parte do que havia sido
publicado sobre eletromagnetismo até aquele momento. Nestes estudos
repetiu os experimentos que os pesquisadores descreveram em seus artigos
e buscou melhores interpretações para os mesmos. Essa atividade
o levou ao correto entendimento do fenômeno relatado por Ørsted
(embora ainda não houvesse clareza sobre o conceito de campo magnético,
gerado pela corrente elétrica) superando interpretações
equivocadas com as quais tinha se apegado anteriormente.
Estimulado por estas
leituras e pelas controvérsias encontradas nos trabalhos que estudou,
Faraday iniciou uma série de experiências inovadoras sobre
rotações de imãs e fios condutores de eletricidade
utilizando os efeitos eletromagnéticos. Na prática, ele conseguiu
produzir rotações contínuas de fios e imãs
em torno uns dos outros, ou em outras palavras, conseguiu transformar energia
elétrica em energia mecânica. Esse trabalho, conhecido como
"as rotações eletromagnéticas", se constituíram
sua primeira contribuição importante ao desenvolvimento da
nova área.
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A
repercussão deste trabalho aumentou seu prestígio na comunidade
científica e promoveu seu relacionamento com renomados cientistas,
como
o francês André
Marie Ampère, com quem estabeleceu intensa correspondência
discutindo os resultados de pesquisas de ambos.
Podemos dizer
que o ano de 1821 foi realmente marcante na vida de Faraday. Além
dos fatos já mencionados, ainda neste ano ele fez suas primeiras
conferências públicas na Royal Institution (essas palestras
se tornaram semanais a partir de 1826 e acrescidas de conferências
natalinas destinadas aos jovens; ambas foram mantidas após seu falecimento
e são realizadas até os dias atuais), casou-se com Sarah
Barnard e foi recomendado por Humphry Davy para o suceder na superintendência
do laboratório.
A partir desse
período o trabalho de Faraday já era independente, mas não
significou mais tempo dedicado ao eletromagnetismo. Ao contrário,
nos anos que se seguiram foram poucas as ocasiões em que intercalou
suas pesquisas em Química com experiências sobre eletromagnetismo.
Por seus trabalhos sobre Química ele se tornou membro da Royal Society,
em 1824, e passou a exercer o cargo de diretor do laboratório no
ano seguinte. [FIGURA: LABORATÓRIO]
Em uma dessas
ocasiões em que se dedicou ao eletromagnetismo, registrada em seu
caderno de laboratório com data de 28 de dezembro de 1824, Faraday
realizou uma experiência que marcou o início de sua busca
pelo efeito da indução eletromagnética. A experiência
consistiu em introduzir um imã em um solenóide (que transportava
corrente elétrica por estar conectado aos pólos de uma bateria)
cujas extremidades estavam ligadas a um galvanômetro (aparelho utilizado
para detectar variação na corrente elétrica). A motivação
da experiência pareceu seguir um raciocínio simples: se as
correntes elétricas produziam efeitos sobre os imãs, os imãs
deveriam produzir efeitos sobre as correntes elétricas. Embora saibamos
que Faraday deveria ter observado alguma variação na corrente
quando movimentava o imã no interior no solenóide, ele nada
observou.
Esse resultado
negativo se repetiu no final dos anos seguintes, quando permaneceu na busca
da produção de corrente elétrica por efeito da presença
de imãs ou por efeito da presença de outra corrente elétrica.
Faraday finalmente alcançou seus objetivos em uma nova fase de pesquisas
sobre eletromagnetismo que se iniciou somente em 1831, quando conseguiu
que uma corrente elétrica em um circuito induzisse corrente em um
outro circuito. Esse resultado foi obtido em 29 de agosto e outras experiências
foram realizadas nos dias subsequentes.
No dia 17
de outubro, ele realizou seu experimento mais conhecido, conseguindo induzir
corrente elétrica pela variação de um campo magnético.
Foi a demonstração do primeiro gerador (também conhecido
como dínamo), que transforma a energia mecânica em energia
elétrica. São diversas as aplicações dos geradores
em nosso mundo moderno, uma delas é sua utilização
em nossas usinas hidrelétricas que são nossa principal fonte
de energia elétrica.
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No final daquele
ano Faraday anunciou a formulação original que deu à
lei da indução eletromagnética. Mas essa lei não
foi apresentada através de uma equação matemática,
como usualmente a conhecemos. A precária formação
de Faraday não lhe permitia tais elaborações, de forma
que a lei da indução só foi escrita em linguagem matemática
posteriormente por James
Clerk Maxwell e constitui uma das quatro leis fundamentais do eletromagnetismo.
Foi também Maxwell que deu seqüência a seus estudos sobre
as linhas de força, origem do conceito de campo.
Durante dez
anos Faraday investigou, ainda que não continuamente, as conseqüências
da indução em diferentes aplicações. Depois
passou um período de quatro anos sem se dedicar à Física
(tendo contraído uma doença que o acompanhou até a
morte), retomando pesquisas neste área de forma intensa em 1845.
Nesse segundo grande período de pesquisas, Faraday fez duas grandes
contribuições à ciência, investigou com sucesso
o fenômeno do diamagnetismo e o efeito do magnetismo sobre a luz
polarizada.
A possibilidade
de utilizar a luz polarizada para investigar o estado dos corpos transparentes
já havia sido testada por ele anteriormente (como revela seu caderno
em anotações realizadas em 1822), porém, não
havia sido levada adiante. Nessa segunda investida, Faraday utilizou vidros
produzidos por ele mesmo e persistiu nas investigações até
descobrir a rotação magnética do plano de polarização
da luz. Essa descoberta foi especialmente valorosa por revelar uma ponte
entre o magnetismo e a óptica, ou seja, representar um caminho de
unificação entre teorias de diferentes campos.
Essa idéia
de unificação das forças da natureza revela traços
de suas crenças pessoais, morais e religiosas, e é perseguida
ainda hoje por vários cientistas. Sob o enfoque de sua formação
religiosa, em algumas conferências Faraday discutiu sua visão
sobre a relação entre seu trabalho científico e sua
religião, deixando indícios de como seu trabalho foi influenciado
pelos valores que adquiriu desde pequeno dentro da seita cristã
dos sandemanianos, onde chegou a exercer por duas vezes o cargo de presbítero.
A vasta contribuição
que deixou à ciência e a forma com a qual buscou o conhecimento
da natureza, através de um trabalho experimental marcado pelo incessante
aperfeiçoamento dos instrumentos, pela necessidade de partilhar
com outros seus conhecimentos, por sua dedicação aos mais
jovens, pela amabilidade no tratamento com os colegas, revelam a correção
de caráter pela qual foi reconhecido.
Durante toda
sua vida, Faraday nunca se beneficiou industrialmente (ou financeiramente)
das aplicações de suas descobertas, tendo se mantido na Royal
Institution até o fim de sua carreira. Atendeu chamados para consultoria
em diversos trabalhos públicos e por trinta anos foi conselheiro
da Trinity House. Sem nunca ter cursado uma universidade, recebeu títulos
honorários e homenagens de toda parte do mundo, e ambos, Royal Society
e Royal Institution, tentaram persuadi-lo a aceitar a presidência,
sem sucesso.
Seus
cadernos de laboratórios, conhecidos como "diários", foram
preservados e publicados, se tornando uma importante fonte de dados sobre
seu trabalho. Também sua correspondência foi editada e publicada,
sendo que a maior parte das cartas preservadas foram recebidas por Faraday,
o que significa que maior quantidade da correspondência ativa (escrita
por ele) se perdeu. O estudo dessas publicações, juntamente
com as diversas biografias existentes sobre Faraday, permitem maior conhecimento
e entendimento da vida e do trabalho desse grande cientista.
Faraday
se aposentou no verão de 1858, cedendo à doença que
o debilitara, comprometendo, principalmente, sua memória. Deixando
os cômodos que ocupou durante tantas décadas próximo
ao laboratório, foi morar em uma casa ofertada gratuitamente pela
rainha Vitória, em retribuição pelos serviços
que prestou ao bem-estar público. Morreu em 25 de agosto de 1867,
em Hampton Court Green e foi enterrado no cemitério Highgate, em
Londres.
Autoria: Valéria da Silva Dias
Bibliografia:
FARADAY, M. A história química de uma
vela. As forças da matéria. Intr. James Clerk Maxwell.
Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2003.
GUERRA, A.; REIS, J. C.; BRAGA, M. Uma abordagem histórico-filosófica
para o eletromagnetismo no ensino médio. Caderno Brasileiro de
Ensino de Física, 21 (2): 224-248, 2004.
WILLIAMS, L. P. Michael Faraday: a biography. New
York: Simon and Schuster, 1971.
Site em inglês:
http://www.rigb.org/rimain/heritage/faradaypage.jsp
Sites em português:
http://www.perdiamateria.eng.br/Nomes/Faraday.htm
http://www.ifi.unicamp.br/~ghtc/ms-vsd.htm
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