Maria Helena Oliveira Lopes
Dissertação de Mestrado defendida em outubro de 2001
Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência, PUC/SP
“A retrogradação dos planetas e suas explicações: os orbes dos planetas e seus movimentos, da Antigüidade a Copérnico”

Resumo

    O estudo dos céus permitiu aos sábios da Mesopotâmia a previsão de muitos fenômenos astronômicos. No entanto, esse conhecimento não levou ao desenvolvimento de modelos do universo que dessem conta dos movimentos dos astros. No mundo grego, os filósofos pré-socráticos foram adquirindo gradualmente o conhecimento dos fenômenos celestes e, ao mesmo tempo, elaborando um sistema de mundo que pudesse explicá-los. Partindo de modelos simples, a cosmologia grega foi se sofisticando e começou a gerar teorias que iam muito além dos fenômenos observáveis. Os filósofos pitagóricos deram um importante passo, procurando associar a cosmologia à matemática e procurando modelos simples – mas não necessariamente de senso comum – que pudessem explicar as aparentes irregularidades dos movimentos celestes. Com Platão, torna-se explícita a norma de procurar explicar todos os fenômenos celestes através de movimentos perfeitos: círculos ou esferas girando uniformemente. Eudoxo e Cálipo procuraram salvar os fenômenos utilizando um modelo de esferas girantes concêntricas à Terra. Essa teoria era capaz de dar conta das retrogradações dos planetas, contudo, não conseguia explicar as variações periódicas dos diâmetros angulares do Sol e da Lua e, também, as sensíveis variações de brilho observadas nos planetas, que pareciam indicar variações de distância. Alguns pensadores antigos sugeriram que a Terra poderia girar em torno de um eixo, ou mesmo que poderia se mover pelo espaço, como os planetas. Heráclides explicou o movimento peculiar de Mercúrio e Vênus sugerindo que eles giravam em torno do Sol. Aristarco propôs uma teoria em que o Sol estava imóvel, e a Terra girava em torno dele. No entanto, as teorias que ganharam maior aceitação no mundo antigo admitiam que a Terra estava parada no centro do universo e que todos os astros giravam em torno dela. Apolônio e Hiparco utilizaram círculos excêntricos e deferentes com epiciclos para descrever os movimentos dos astros, conseguindo dar conta dos fenômenos. Ptolomeu aperfeiçoou esse sistema, introduzindo no entanto mecanismos que violavam o princípio platônico de rotações uniformes. Durante a Idade Média e o Renascimento vários pensadores criticaram a teoria astronômica de Ptolomeu, mas não surgiram alternativas à altura do sistema geocêntrico alexandrino. No século XVI, Copérnico propôs sua teoria heliocêntrica sem no entanto refutar a hipótese geocêntrica. Copérnico conseguiu dar uma explicação mais natural do movimento retrógrado dos planetas e, reinterpretando dados antigos, calculou a distância dos planetas ao Sol.

 Você pode obter uma cópia desta dissertação em formato PDF, "clicando" a figura ao lado, com o botão DIREITO do mouse Texto completo, em formato PDF



Abstract

    The sages of Mesopotamia studied the skies and became able to predict several astronomical phenomena. However, this knowledge did not led to the development of models of the universe to account the motions of the celestial bodies. In the Greek world, the presocratic philosophers gradually learned the celestial phenomena and, at the same time, developed a world system to explain them. Starting from simple models, Greek cosmology became highly refined and produced theories that went beyond observable phenomena. The Pitagoric philosophers attempted to associate cosmology to mathematics and searched for simple geometrical models – not necessarily obeying common sense – that could explain the seemingly irregular celestial motions. From Plato onwards a general norm was established that all celestial phenomena should be explained by combinations of perfecto motions: circles or spheres with uniform rotation. Eudoxos and Callipos attempted to save the phenomena by nested rotating spheres concentric with the Earth. This theory was able to account for the retrograde motion of the planets. However it could not explain the periodic changes of the angular diameters of the Sun and the Moon, and the observable changes of the brightness of planets, that seemed to be related to distance changes. Some thinkers suggested that the Earth could be turning around its axis, or that it could even move in space, as the planets. Heraclides explained the peculiar motions of Mercury and Venus by suggesting that they could turn around the Sun. Aristarchos proposed a theory where the Sun was still, and the Earth rotated around it. However, the theories that gained widespread acceptance in Antiquity were those that assumed a still Earth at the centre of the universe, with all planets rotating around it. Appolonios and Hyparchos were able to save the phenomena employing eccentric circles and deferents with epicicles. Ptolemy improved this system, but introduced new mechanisms that violated the Platonic requirement of uniform rotation. During the Middle Ages and the Renaissance several authors criticised Ptolemy’s astronomical theory, but there were no alternatives as commendable as the Alexandrian geocentric system. In the 16th century, Copernicus proposed his heliocentric theory, without providing a refutation of the geocentric hypothesis. Copernicus was able to provide a more natural explanation of the retrograde motion of the planets and, by reinterpreting the old data, he computed the distances between the planets and the Sun.

Grupo de História, Teoria e Ensino de Ciências – UNICAMP