Esta é uma reprodução (sem notas
de rodapé) de uma comunicação inédita, apresentada
no VI Encontro da Sociedade Brasileira de História e Computação
(SBHC), em novembro de 1996
Bases de dados sobre história da ciência e da técnica
em Portugal e Brasil, do Renascimento até 1900
ROBERTO DE ANDRADE MARTINS
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta um projeto que está sendo desenvolvido na
Universidade Estadual de Campinas, com o objetivo geral de contribuir para
o conhecimento do pensamento científico e técnico português
e brasileiro, desde o Renascimento até 1900. O trabalho desenvolvido
consiste na construção de um instrumento de pesquisa – um
conjunto de bases de dados sobre o assunto. Esse instrumento, além
de permitir a fácil e rápida obtenção de informações
sobre fontes para a pesquisa da história da ciência, possibilita
também a realização de análises bibliométricas
sobre a ciência e técnica luso-brasileira.
1.1 Antecedentes
Tanto em Portugal quanto no Brasil, muitos pesquisadores já estudaram
diferentes aspectos do desenvolvimento científico e técnico
dessas nações, no período considerado. No caso do
Brasil, há os antigos estudos globais sobre as ciências e
técnicas no Brasil (como os livros editados por Fernando de Azevedo
e por Mário Guimarães Ferri & Shozo Motoyama); estudos
mais recentes sobre o desenvolvimento de algumas instituições
importantes no século XIX (principalmente os estudos realizados
pelos grupos da História da USP e Geociências da UNICAMP);
sobre a medicina brasileira do século XIX (principalmente pelo grupo
da FIOCRUZ); alguns estudos sobre a química nos séculos XVIII
e XIX (Carlos Alberto Filgueiras, Ana Maria Goldfarb e Márcia Helena
Mendes Ferraz); estudos sobre a história das técnicas no
Brasil (Ruy Gama, Ewaldo Mello de Carvalho); sobre a história da
matemática (Ubiratan d'Ambrosio), etc. – apenas para citar alguns
exemplos.
Cada um desses grupos ou pesquisadores procurou coletar informações
para seus estudos específicos, sem tentar fazer um levantamento
sistemático de fontes de pesquisa disponíveis. A Casa de
Oswaldo Cruz tem realizado um trabalho de estudo de fontes de Medicina;
e o Museu de Astronomia e Ciências Afins realizou um levantamento
de arquivos no Rio de Janeiro. No entanto, não havia sido planejado
nem realizado antes, no Brasil, um trabalho tão abrangente quanto
o do presente projeto.
Em Portugal, a situação não é muito diferente,
embora exista uma tradição mais longa de estudos sobre a
história das ciências e das técnicas. Apesar de bons
estudos sobre temas específicos ou sobre personalidades mais conhecidas,
nunca foi possível ter uma visão global da produção
científica e técnica daquela nação, não
sendo conhecidos projetos sistemáticos de levantamento de fontes
para a pesquisa na área. Antes do presente projeto, nem no Brasil
nem em Portugal havia sido iniciado qualquer trabalho semelhante de coleta
sistemática de informações. Por outro lado, como a
análise bibliométrica só é possível
após tal tipo de trabalho, jamais se fez também qualquer
pesquisa bibliométrica sobre a ciência portuguesa e brasileira
antiga (anterior ao século XX) .
1.2 Motivação
O motivo básico da presente pesquisa foi a vontade de estudar as
raízes científicas e técnicas de nosso país
– o que obriga, necessariamente, a incluir também a história
da ciência e técnica de Portugal.
Todos os que estão acostumados à pesquisa da história
da ciência internacional, percebem o enorme contraste existente entre
os recursos para pesquisa sobre a história das ciências e
das técnicas de "primeiro mundo" e os disponíveis para a
pesquisa da história das ciências e das técnicas do
Brasil ou Portugal. É relativamente fácil, por exemplo, descobrir
o que se publicou nas revistas dos países mais desenvolvidos do
mundo, no século XIX, sobre qualquer tema de física, utilizando
os instrumentos bibliográficos existentes referentes a esse período.
Mas tais instrumentos, a não ser excepcionalmente, deixam de lado
as publicações portuguesas ou brasileiras. Há projetos,
em muitos países, de levantamento de fontes para a pesquisa de história
das ciências e das técnicas (incluindo fontes impressas e
inéditas) , mas não havia nada semelhante aqui. Essa foi
a motivação inicial do presente trabalho.
Em 1987 e 1988, a comunidade brasileira de História da Ciência
se reuniu e organizou um projeto para um Programa Nacional de História
das Ciências e da Tecnologia. Nessa ocasião identificou-se
que um dos pontos prioritários para possibilitar o desenvolvimento
da área era a criação de bases de dados com informações
sobre documentos relevantes para a pesquisa em História da Ciência
e da Tecnologia . Todos os que participantes concordaram que sem bons instrumentos
não se faz boa pesquisa. Assim, deve-se (entre outras coisas) desenvolver
esses instrumentos . Houve alguns projetos anteriores (como o do MAST/CNPq,
relativo a arquivos do Rio de Janeiro , ou o da FIOCRUZ, relativo à
história da Medicina), porém nada do porte do trabalho aqui
descrito.
2 HISTÓRICO E ABRANGÊNCIA DO PROJETO
O trabalho que vai ser descrito aqui não está sendo iniciado
agora. Em 1988, O responsável pelo projeto (Roberto de Andrade Martins)
começou a planejá-lo e a discuti-lo com outras pessoas. Ele
se iniciou de fato em 1989, com o auxílio de uma bolsista de Aperfeiçoamento
do CNPq.
A primeira etapa do trabalho consistiu em uma pesquisa bibliográfica
tentando localizar referências sobre livros (e, posteriormente, artigos)
científicos e técnicos, de autores portugueses, escritos
até 1822. Por "autores portugueses" queremos indicar qualquer pessoa
nascida em Portugal ou suas colônias, ou que, embora estrangeiro,
tenha fixado residência em terras portuguesas nesse período.
Foram incluídas também traduções portuguesas
de obras estrangeiras.
Os assuntos abrangidos na busca foram: medicina, farmácia, química
(incluindo metalurgia, etc.), mineralogia, física, astronomia, geografia,
matemática, história natural, agricultura, veterinária,
navegação, engenharia e arquitetura, artes militares, filosofia,
filologia, filosofia. Foram excluídas obras sobre religião,
literatura de ficção (poesia, teatro, romances, etc.), obras
jurídicas e história política. Foram incluídas
descrições de viagens e descrições históricas
gerais do período, que são fontes essenciais para o estudo
do desenvolvimento do conhecimento português nos campos científico
e técnico. Obras sobre artes (música, desenho, artesanato,
culinária, etc.) foram incluídas por causa de sua eventual
conexão com temas científicos e técnicos. Algumas
obras religiosas foram incluídas por sua relevância lingüística
(por exemplo: textos religiosos em idiomas indígenas ou asiáticos);
e obras jurídicas diretamente relacionadas com ciência e técnica
também foram incluídas.
Inicialmente, a pesquisa incluiu apenas livros impressos, até
1822, no levantamento realizado. No entanto, com o prosseguimento da pesquisa,
foi possível a partir de 1993 ampliar a abrangência do levantamento,
de modo a incluir também:
-
bibliografia secundária (obras de referência e trabalhos sobre
história da ciência e da técnica do período);
-
manuscritos do período;
-
mapas;
-
folhetos e teses;
-
artigos de periódicos publicados no período;
-
inclusão de outras colônias portuguesas;
-
edições realizadas após 1822 de obras produzidas até
1822 – incluindo tanto obras que permaneceram inéditas até
1822, como também reedições de obras publicadas antes
de 1822;
-
obras escritas por portugueses ou brasileiros publicadas em outros países;
traduções de obras de portugueses e brasileiros; e traduções
realizadas no período por portugueses ou brasileiros de obras estrangeiras
sobre os assuntos cobertos na pesquisa;
-
dados biográficos sobre os autores das obras incluídas na
base de dados.
A partir de 1994, iniciou-se a produção de uma nova base
de dados, contendo informações históricas e uma cronologia
sobre o período. Essa base de dados tem o objetivo de permitir a
compreensão dos fatores econômicos, sociais, políticos
e outros que influenciaram o desenvolvimento científico e técnico.
Por fim, no segundo semestre de 1994, o projeto foi ampliado para incluir
também obras publicadas no período de 1822 até 1900.
3 METODOLOGIA DE COLETA DE DADOS
O trabalho de busca de informações utiliza tanto obras
de referência impressas (bibliografias, catálogos, estudos
históricos) quanto consulta direta a bibliotecas e arquivos. Como
ponto de partida são utilizadas sempre obras de referência
impressas (pois o trabalho, nesse caso, é muito mais rápido).
Essas obras de referência, por sua vez, são encontradas ou
através de bibliografias de bibliografias, pela consulta a fichários
de bibliotecas, ou através de citações em outras obras.
Toma-se, por exemplo, a cópia de uma bibliografia ou um catálogo
de manuscritos e examina-se com cuidado item por item, avaliando-se sua
pertinência ao projeto e marcando-o. Esse trabalho é feito
pelo coordenador ou pelos bolsistas mais experientes. Depois, procura-se
cada um dos itens selecionados no banco de dados, para verificar se o item
já estava registrado. Se ele já existia, as informações
são conferidas, sendo acrescentadas observações referentes
a quaisquer discrepâncias notadas e adicionando-se a referência
da nova obra pesquisada. Se o item não existia ainda, é criado
um novo registro e as informações são digitadas.
No caso de consulta direta a bibliotecas e arquivos, às vezes
são levadas listagens das bases de dados, para evitar o trabalho
de copiar informações que já foram digitadas; ou então,
é levado um notebook com as bases de dados, de tal modo a poder
conferir e digitar as informações no próprio local
.
Foram inicialmente consultadas as bibliografias portuguesas e brasileiras
gerais mais conhecidas, como as obras de Diogo Barbosa Machado, Innocencio
Francisco da Silva, Sacramento Blake, António Anselmo, Rubens Borba
de Moraes, José Carlos Rodrigues, etc. (ver "referências bibliográficas"
no final deste artigo). Essas e outras obras foram examinadas sistematicamente,
página por página, em busca de informações
relevantes. Posteriormente foram utilizados catálogos de bibliotecas,
catálogos de leilões, livros e artigos bibliográficos
sobre temas específicos, etc.
Para a localização de bibliografias relevantes, foram
utilizadas as bibliografias das bibliografias portuguesas e brasileiras
de António Joaquim Anselmo, Antonio Simões dos Reis, Bruno
Basseches e Jorge Peixoto. Até 1996, foram utilizadas cerca de 300
fontes bibliográficas para a pesquisa .
Está sendo utilizada a consulta a algumas bases de dados do exterior
(como a da Library of Congress). A Biblioteca Nacional de Lisboa forneceu
ao projeto uma cópia em disquete de todas as informações
existentes em sua base de dados, cobrindo o período até 1800.
Foram utilizados também dados de bases informatizadas da British
Library (Londres) e da Bodleian Library (Oxford).
A supervisão de todo o trabalho e o gerenciamento das bases de
dados são feitos pelo coordenador.
4 CONSTITUIÇÃO DAS BASES DE DADOS
Inicialmente, as informações localizadas eram registradas
em cartões manuscritos. Após se atingir um número
de cerca de 2.000 fichas (grande parte delas repetidas), foram obtidos
recursos para a criação da base de dados informatizada, através
do apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo (FAPESP). A base de dados foi estruturada, em 1991,
utilizando-se o programa CDS-ISIS desenvolvido pela UNESCO .
Além das informações bibliográficas básicas
(autor, título, local, editora ou gráfica, ano, número
de páginas), a base de dados inclui informações sobre
idioma, assunto, bibliotecas em que as obras já foram localizadas
(no Brasil e Portugal), fontes de referência que citam a obra (com
indicação precisa de página), existência de
outras edições, etc. Sempre que possível, é
incluída uma descrição detalhada da folha de rosto
.
A base de dados permite uma busca extremamente rápida de obras,
através de qualquer informação dos registros, como:
palavras do título (em qualquer ordem), assunto, partes do nome
do autor, cidade de publicação, data, idioma, biblioteca
onde a obra foi encontrada, fonte de referência que cita a obra,
e qualquer associação desses dados. É muito fácil,
por exemplo, procurar as obras sobre medicina publicadas em Coimbra, em
latim, em 1674.
Além de utilizar os recursos próprios do programa CDS-ISIS,
foram feitas algumas adaptações que aumentaram o seu poder.
Foi utilizado um programa auxiliar que permite a digitação
e exibição em tela de caracteres especiais utilizados no
português antigo, como por exemplo a letra “u” com til (que significava
“um”). Foi feita uma adaptação para tornar mais rápida
a busca de termos truncados, já que com os recursos do próprio
programa CDS-ISIS é extremamente lento procurar, por exemplo, todas
as obras de um século, truncando-se a data. Com essa adaptação,
é possível a busca direta utilizando-se palavras truncadas
(por exemplo: fazendo-se a busca por "astro-", localiza-se as obras em
que aparece astronomia, astros, astrônomo, etc.), décadas
ou séculos (por exemplo, usando-se na busca 176- , obtém-se
todas as obras da década de 1760 a 1769), etc.
Outro problema encontrado foi a grande variedade de grafias de palavras
que aparecem nos títulos das obras, e até mesmo nos nomes
de autores. Inicialmente, tentou-se implantar um processo de busca fonética,
mas os resultados não foram satisfatórios. Foi então
desenvolvido um dicionário auxiliar que, no processo de indexação,
transforma os termos de ortografia antiga em ortografia moderna, de tal
modo que, ao se procurar uma palavra atual, como "química", sejam
também encontradas obras onde aparece a palavra "chymica". Da mesma
forma, procurando-se "José", encontra-se também as obras
onde aparece "Joseph". Esse sistema facilita muito as buscas.
5 ESTADO ATUAL DO PROJETO
A parte mais antiga do trabalho é, evidentemente, a que está
mais completa. Para obras impressas antes de 1822, a base de dados possui
cerca de 6.000 registros e esse número não deve aumentar
muito no futuro (pode haver um aumento de, no máximo, 10%). As outras
bases de dados ainda não estão em um estágio tão
avançado, mas crescem rapidamente e logo estarão também
bastante completas . Para efeito de comparação, a maior bibliografia
portuguesa já escrita (o Dicionario bio-bibliographico portugues,
de Innocencio Francisco Silva e Brito Aranha) apresenta uma cobertura de
apenas 40% das obras do período até 1822 e de menos de 30%,
para o período posterior a 1823 até 1900.
Atualmente (este artigo foi escrito em meados
de 1996), o conjunto das bases de dados do projeto já atingiu
um total de aproximadamente 50.000 registros . A coleta de informações
sobre o período 1823-1900 é, como se poderia esperar, a que
proporciona agora o maior número de dados.
Base:
|
Descrição:
|
Número de registros:
|
Tamanho previsto:
|
HTC |
Publicações até 1822 |
10.200 |
11.000 |
MAP |
Mapas até 1822 |
3.100 |
4.000 |
PES |
Dados biográficos até 1822 |
1.900 |
3.000 |
MAN |
Manuscritos até 1822 |
5.700 |
7.000 |
IMP |
Livros de 1823 até 1900 |
20.200 |
40.000 |
ART |
Artigos de 1823 até 1900 |
8.500 |
15.000 |
PER |
Periódicos |
700 |
900 |
TOTAL |
|
50.300 |
80.900 |
6 DESENVOLVIMENTO PREVISTO
Nos próximos anos, além de uma gradativa complementação
das bases de dados já existentes, planeja-se estender até
1900 as bases de dados relativas a cartografia, manuscritos, e dados biográficos.
Também será desenvolvida uma base de dados auxiliar, contendo
dados sobre a história de Portugal e Brasil, até 1900, para
complementar as bases de dados já existentes, de tal forma a permitir
a rápida correlação entre a situação
histórica em cada fase e a produção científica
e técnica da mesma época.
Sob o ponto de vista de busca de informações nas bases
de dados, será implantado um “thesaurus”, utilizando recursos do
próprio programa CDS/ISIS, de modo a facilitar a pesquisa de assuntos
e de sub-assuntos de uma forma lógica.
Atualmente, a consulta a esse conjunto de bases de dados só pode
ser feito ou indiretamente, por solicitação (carta, correio
eletrônico), ou pessoalmente na própria UNICAMP. Logo que
seja possível, as bases de dados começarão a ser colocadas
à disposição dos interessados através da Internet,
começando pelas bases que estão mais completas (HTC, MAN,
MAP). Isso exigirá, no entanto, uma revisão cuidadosa e sistemática
dos registros, para reduzir os inevitáveis erros das informações.
Pela própria natureza do trabalho, não existe intenção
de fazer publicação do conteúdo das bases de dados
sob forma impressa. Futuramente poderá haver divulgação
do trabalho sob a forma de CD-ROM.
7 UTILIDADES DAS BASES DE DADOS
Além do seu uso como fonte de informações sobre
documentos, as bases de dados aqui descritas permitem um estudo bibliométrico
do desenvolvimento da ciência e da técnica em Portugal e Brasil,
no período considerado.
A partir da formação das bases de dados, é possível
fazer interessantes análises bibliométricas. Pode-se acompanhar
o início, crescimento e flutuações de desenvolvimento
de cada área científica, bem como suas proporções
relativas . Pode-se acompanhar o surgimento e eventual desaparecimento
de temas de estudo. Pode-se comparar o crescimento do número de
publicações com as curvas teóricas exponenciais, de
modo a detectar momentos em que se deram perturbações no
desenvolvimento científico – e, a partir da detecção
desses momentos, procurar suas causas nos fatores históricos da
mesma época . Pode-se estudar a variação geográfica
de produção dos vários campos de conhecimento – cidade
por cidade. Pode-se estudar a gradual substituição do latim
pelo português, nas obras científicas. Pode-se – embora pareça
estranho – fazer boas estimativas sobre o volume de documentos que não
se conhece de cada período. Pode-se comparar a produção
dos autores de cada época a fim de verificar a validade da lei de
Lotka, no caso portugues e brasileiro . Enfim: há uma série
de estudos bibliométricos que têm sido feitos para a ciência
moderna de "primeiro mundo" e que vale à pena desenvolver
para o caso de Portugal e Brasil.
-
Apenas quando se dispõe de dados coletados sistematicamente que
reflitam o desenvolvimento científico e técnico, é
possível fazer-se análises globais da evolução
dessas áreas.
-
Sem uma base de dados como essa, é impossível fazer qualquer
afirmação bem fundamentada sobre em quais fases históricas
o desenvolvimento científico e técnico de Portugal ou Brasil
ganhou impulso significativo ou sofreu redução, por exemplo.
-
Sem uma base de dados como essa, é impossível avaliar os
pesos relativos das várias áreas científicas e técnicas
em cada momento histórico, ou perceber em que época um determinado
campo surgiu ou decaiu em Portugal ou no Brasil.
-
Sem uma base de dados como essa, é impossível avaliar o contexto
em que se desenvolveu o trabalho de algum cientista português ou
brasileiro em particular.
-
Sem uma base de dados como essa, é impossível tentar conectar
os desenvolvimentos técnicos e científicos entre si, ou com
fatores históricos externos.
Mesmo sem o estudo do conteúdo das obras científicas e técnicas,
tal base de dados permite, portanto, análises e estudos estatísticos
e bibliométricos de grande interesse e importância.
8 EQUIPE E INFRA-ESTRUTURA
Esse trabalho já tem se desenvolvido há vários anos,
com apoio do CNPq e da FAPESP. Além da equipe que se dedica de modo
mais direto ao projeto, o trabalho conta com auxílio eventual de
outras pessoas (da UNICAMP e de outras instituições) . O
trabalho já contou com muitos bolsistas de Iniciação
Científica e de Aperfeiçoamento do CNPq. No período
entre 1993 e início de 1995, havia 4 bolsistas de Iniciação
e 4 de Aperfeiçoamento. Cada bolsista estava diretamente envolvido
com um dos sub-projetos, colaborando no estudo, por exemplo, da cartografia
colonial, ou de manuscritos coloniais, etc. No entanto, as quotas de bolsas
não foram renovadas no início de 1995. Por isso, desde essa
época, a colaboração do CNPq foi nula. Nesse período
mais recente, contamos com a participação de pessoal pago
pela FAPESP.
Graças ao apoio proporcionado pela FAPESP, esse trabalho conta
atualmente com uma boa infra-estrutura: uma rede local de computadores
pessoais, periféricos (“scanner”, impressora, etc.), leitora de
microfilmes e demais materiais necessários. O projeto está
sendo desenvolvido junto ao Instituto de Física da UNICAMP.
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
É impossível indicar, aqui, a bibliografia que já
foi utilizada ou a que pretendemos usar. Vamos apenas dar exemplos de obras
relevantes. Em primeiro lugar, as quatro bibliografias de bibliografias
mais importantes:
-
ANSELMO, António Joaquim. Bibliografia das bibliografias portuguesas.
Lisboa: Biblioteca Nacional, 1923.
-
BASSECHES, Bruno. A bibliography of brazilian bibliographies – Uma bibliografia
das bibliografias brasileiras. Detroit: Blaine Ethridge Books, 1978.
-
PEIXOTO, Jorge. Bibliografia analítica das bibliografias portuguesas.
Coimbra: Universidade de Coimbra, 1987.
-
REIS, Antonio Simões dos. Bibliografia das bibliografias brasileiras.
Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1942.
As maiores bibliografias gerais que cobrem o período até
fins do século XIX, para Portugal e Brasil, são:
-
BLAKE, Augusto Victorino Alves do Sacramento. Diccionario bibliographico
brazileiro. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1883-1902. 7 vols.
-
SILVA, Innocencio Francisco & ARANHA, Pedro Venceslau de Brito. Diccionario
bibliographico portuguez. Estudos de Innocencio Francisco da Silva
applicaveis a Portugal e ao Brasil. Continuados e ampliados por Brito Aranha.
Lisboa: Imprensa Nacional, 1858-1923. 23 vols.
Uma obra essencial, que complementa as anteriores e que se dedica a obras
portuguesas em outros idiomas, é:
-
BRANCO, Manoel Bernardes. Portugal e os estrangeiros. Lisboa: Livraria
de A. M. Pereira – Imprensa Nacional, 1879-1895. 5 vols.
Essas obras contêm informações biográficas e
dados sobre livros, além de menor quantidade de informações
sobre artigos de periódicos e poucas informações sobre
manuscritos. Para o período mais antigo, são muito importantes:
-
ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA. Bibliografia geral portuguesa.
Lisboa, Imprensa Nacional, 1941-1942. 3 vols.
-
ANSELMO, António Joaquim. Bibliografia das obras impressas em
Portugal no século XVI. Lisboa: Biblioteca Nacional, 1926.
-
MACHADO, Diogo Barbosa. Bibliotheca lusitana historica, critica e chronologica.
Na qual se comprehende a noticia dos authores portuguezes, e das obras,
que compusera desde o tempo da promulgaça da ley da graça
até o tempo prezente. Lisboa: Officina de Antonio Isidoro da Fonseca,
1741-1759. 4 vols.
-
MORAES, Rubens Borba de. Bibliographia brasiliana. Rare books about
Brazil published from 1504 to 1900 and works by Brazilian authors of the
Colonial period. Revised and enlarged edition. Los Angeles – Rio de Janeiro:
University California – Kosmos, 1983. 2 vols.
-
RODRIGUES, José Carlos. Bibliotheca brasiliense. Catalogo
annotado dos livros sobre o Brasil e de alguns autographos e manuscriptos
pertencentes a J. C. Rodrigues. Parte I – Descobrimento da America: Brasil
colonial. 1492-1822. Rio de Janeiro: Typ. do "Jornal do Comercio" de Rodrigues
e C., 1907.
Há estudos sobre obras antigas publicadas na Índia e na China
pelos portugueses, como:
-
BOXER, Charles R. A tentative check-list of indo-portuguese imprints. Arquivos
do Centro Cultural Português 9: 567-600, 1975.
-
BRAGA, Jack M. The beginnings of printing at Macao. Studia 12: 29-137,
1963.
O projeto utiliza muitos catálogos de bibliotecas, arquivos e mapotecas,
como:
-
ADONIAS, Isa. Mapas e planos manuscritos relativos ao Brasil Colonial
conservados no Ministério das Relações Exteriores
e descritos por Isa Adonias para as comemorações do Quinto
Centenário da morte do Infante Dom Henrique. Rio de Janeiro: Ministério
de Relações Exteriores, 1960.
-
ALMEIDA E SOUSA, Abel Lopes de & CARVALHO, Joaquim de. Catálogo
de manuscritos (Códices 2205 a 2309). Apostilas de Filosofia, I.
Lógica. Coimbra: Biblioteca Geral da Universidade, 1942.
-
BASTO, Arthur de Magalhães. Catálogo dos manuscriptos
ultramarinos da Bibliotheca Municipal do Porto. Lisboa: 1938.
-
BIBLIOTECA MUNICIPAL MÁRIO DE ANDRADE. Catálogo de obras
raras da Biblioteca Municipal Mário de Andrade. São Paulo:
Secretaria da Educação e Cultura, 1969.
-
BRAGA, Angela. Catálogo das obras raras e valiosas da Biblioteca
Frederico Edelweiss. Salvador: Universidade Federal da Bahia – Centro
de Estudos Baianos, Gráfica Universitária, 1981.
-
BRASIL. ARQUIVO NACIONAL. Catalogo dos mapas existentes na Biblioteca
do Arquivo Nacional. Notícia apresentada à 2a. Reunião
Pan-Americana de Consultas sobre Geografia e Cartografia, realizada no
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1944.
-
BRASIL. MINISTÉRIO DA GUERRA. Catálogo das cartas históricas
da mapoteca da Diretoria do Serviço Geográfico do Exército.
Rio de Janeiro: Imprensa Militar, 1953.
-
Catalogo da Bibliotheca da Escola Polytecnica organizado em 1878
e acompanhado do respectivo regulamento. Rio de Janeiro: Typographia Nacional,
1878.
-
Catalogo dos livros da Bibliotheca Fluminense. Rio de Janeiro: Typographia
Thevenet, 1866.
-
GALVÃO, Benjamin Franklin Ramiz. Catalogo da Exposição
de Historia do Brazil realizada pela Bibliotheca Nacional do Rio de
Janeiro a 2 de dezembro de 1881. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional do
Rio de Janeiro, Typ. de G. Leuzinger & Filhos, 1881. 3 vols.
-
RIVARA, Joaquim Heliodoro da Cunha & MATOS, Joaquim Antonio de Souza
Telles de. Catalogo dos manuscriptos da Bibliotheca Publica Eborense.
Tomo I que comprehende a noticia dos codices e papeis relativos ás
cousas da America, Africa e Asia; Tomo II que comprehende a litteratura.
Lisboa: Imprensa Nacional, 1850. 2 vols.
Há catálogos e bibliografias sobre temas específicos,
como por exemplo:
-
COSTA, Abel Fontoura da. Bibliografia náutica portugueza até
1700. Lisboa: Agência Geral das Colónias, 1940.
-
COSTA, Carlos Antonio de Paula. Catálogo da exposição
medica brasileira realizada pela Bibliotheca da Faculdade de Medicina
do Rio de Janeiro a 2 de dezembro de 1884. Rio de Janeiro: Typographia
Nacional, 1884.
-
COSTA, Carlos. Catalogo systematico da Bibliotheca da Faculdade de Medicina
do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1892.
-
COSTA, Manuel Gonçalves da. Inéditos de Filosofia em Portugal.
Revista Portuguesa de Filosofia 5: 37-77, 145-82, 1949.
-
GARCIA, Rodolpho Augusto de Amorim. Bibliographia geographica brasileira.
Revista do Instituto Historico e Geographico Brasileiro 85:
5-105, 1919.
-
GUIMARÃES, Rodolpho. Les mathématiques en Portugal. O
Instituto 51: 414-30, 492-503, 555-67, 628-36, 672-79, 739-46,
1904; 52: 32-9, 105-14, 160-8, 222-9, 288-93, 349-56, 409-16, 473-86,
538-46, 605-14, 665-71, 734-40, 1905; 53: 26-33, 96-106, 161-70,
223-7, 292-8, 348-56, 412-8, 475-84, 541-50, 607-13, 667-74, 717-25, 1906;
54: 21-9, 87-97, 146-53, 207-19, 273-84, 332-44, 407-19, 469-87,
529-42, 595-613, 677-99, 1907; 55: 16-37, 97-120, 178-90, 235-47,
286-97, 332-47, 369-86, 417-31, 465-74, 526-37, 1908; 56: 15-21,
49-61, 97-104, 158-67, 219-28, 284-97, 349-59, 440-51, 511-9, 1909.
-
PAIVA, Tancredo Duque Estrada de Barros. Bibliographia ethnica-lingüistica
brasiliana. Annaes do XX Congresso Internacional de Americanistas
3: 331-400, 1932.
-
SANTOS, Mariana Amélia Machado. Manuscritos de filosofia do século
XVI existentes em Lisboa. Boletim da Biblioteca da Universidade de Coimbra
19: 241-382, 1950; 20: 295-525, 1951.
Essa curta amostra permite ter uma idéia do tipo de obras utilizadas
na busca de informações para as bases de dados.