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2.7 A INTERPRETAÇÃO
CRÍTICA DOS MITOS
Como se pode ver, esses mitos estão em um nível de elaboração
racional muito avançado. Continuam a ser mitos, pois descrevem ações
de seres sobrenaturais que produzem o universo. Mas não podem ser
considerados “meros mitos”. Por isso, estamos lhes dando o nome de “mitos
filosóficos”.
Xenófanes de Cólofon, filósofo que criticou os
mitos.
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Em princípio, o pensamento mítico poderia ter se sofisticado
sempre, indefinidamente, sem deixar de ser o que era: um pensamento religioso.
No entanto, em torno do quinto século antes da era cristã,
ocorreu tanto na Grécia quanto na Índia uma crítica
à religião tradicional e uma tendência ao surgimento
de um pensamento totalmente independente da religião: a filosofia.
Na Grécia, um importante representante da corrente intelectual que
criticou os mitos foi Xenófanes de Cólofon (576 a 480 a.C.).
Ele aponta que os deuses da mitologia grega tinham muitos defeitos morais:
eram injustos, vingativos, adúlteros, ciumentos, etc.; além
disso, eram semelhantes aos homens, já que tinham corpo, voz, roupas
– e nada disso era compatível com a idéia de um deus. Xenófanes
ridiculariza esse tipo de concepção: |
Os mortais consideram
que os deuses tiveram nascimento, e que possuem roupas e vozes e corpos
como os seus.
Os Etíopes [africanos]
dizem que seus deuses possuem narizes achatados e que são negros;
e os Trácios que os seus possuem olhos azuis e cabelo vermelho.
Se os bois, cavalos e leões
tivessem mãos e pudessem pintar e produzir as obras que os homens
realizam, os cavalos pintariam figuras de deuses semelhantes a cavalos,
os bois semelhantes a bois, e lhes atribuiriam os corpos que eles próprios
têm.
Ou seja: Xenófanes considera a mitologia como uma criação
da imaginação humana, que projeta sobre os deuses aquilo
que conhece sobre os próprios homens. Pelo contrário, ele
considera que existe uma concepção verdadeira muito mais
elevada: “Há um deus acima de todos os deuses e homens; nem sua
forma nem seu pensamento se assemelham aos dos mortais”. |
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